quinta-feira, 12 de junho de 2008

ÀS MARGENS DO MAR MORTO

ÀS MARGENS DO MAR MORTO

Dias depois do aviso de Alencar, à entrada de lindo crepúsculo, chegam Teóclito e mais três seus amigos, mas de nós ainda desconhecidos. Dolores, Antônio, eu, Ambrósio e mais dois rapazes, em caravana, guiados por Teóclito, marchamos para a face nebulosa da Terra, para a atmosfera densa e neblinada, onde os pulmões humanos se nutrem de valores indispensáveis à vida biológica.
O luar reverberava no Lago Salgado. E a palavra instrutiva de Teóclito nos punha ao corrente do porquê de ali estarmos. Um silêncio profundo reinava, só ferido de quando em quando por algum silvo. A uma observação nesse sentido, feita por Antônio, Teóclito explicou:
— Há mais que ouvir, ainda...
Fez um longo silêncio, pelo tempo que durou um olhar observador pela margem do mar. Depois, convidando a prestar toda a atenção, murmurou pesaroso:
— Este lugar é muito visitado, principalmente nos dias de evocações históricas, por vultos de valor, criaturas que tomaram parte na grande tragédia, amigos do Senhor e servos humildes de sua Infinita Bondade; mas, também, é procurado sempre por falanges de infelizes, de duendes da dor, do retardamento e das atrações inferiores. Reparem como sombras negras se locomovem, precípites umas, macilentas outras, imprecativas outras tantas e lamurientas mais ainda. São, na generalidade, seres que erraram então, ou que vieram a errar depois, no curso dos séculos, pela mesma razão. E pensando nas coisas do Senhor, baldeam-se para os lugares onde o Senhor Diretor Planetário passou, viveu, ensinou, deixou marcas psicométricas de Sua Personalidade inconfundível.
— Que horror! — exclamou Dolores, depois de fixar numa direção o seu olhar.
— Não se detenha em tal estado de impressão. — recomendou-lhe Teóclito — O que vamos fazer reclamará de nós todo poder de penetração; para isso é preciso conservar os centros vibratórios do órgão por excelência, no seu ponto ótimo. Para uma experiência destas, notemos bem, cumpre querer e poder, pois os ramos emissor e captador devem estar em perfeita franquia funcional. Devemos lançar-nos à pesquisa, pelas ondas mentais e também, por esse mesmo meio, ficar ao dispor das respostas impressivas. Assim se dá no fenômeno psicométrico. As imagens estão sempre expostas, nos objetos e nos seres. Quem quiser, porém, aventurar-se a sondá-las, deve, com toda serenidade, ir ao foco. Nos casos de auxílio superior, pode-se facilitar um pouco; mas, por que razão fazer mal, quando se pode fazer bem?
Descemos mais, misturando-nos com os lúgubres andantes do local. Subimos, em seguida, para o alto de um monte. Ali não havia ninguém. O luar faria descortinar, aos olhos do mortal que ali fosse, um cenário estonteante. Para nós, pelo menos para mim, aquele mundo de coisas impressionava de um modo que não posso definir. Ora o passado reflorava-me impetuoso, ou de mim mesmo cedia ao imperativo de sua tremenda capacidade embaladora. Alguém, superior, deve ter feito aquilo.
Todo um tempo histórico revivemos! O mais interessante, porém, não foi reviver o que sabíamos, isto é, rever-nos como criminosos do Calvário. Já havia lido o meu relatório e sabia disso muito bem. O que foi bem focalizado foi a vida de Teóclito, um Nazireu de então, na casa de quem o Divino Mestre muitas vezes dormiu, comeu, descansou seus doridos pés. Vimos bem, ouvimos ainda melhor, longa conversação entre Jesus-Cristo e o Precursor, nessa residência feliz e acolhedora. Falaram do fim de ambos, como se daria, como havia de se dar. Por isso mesmo, pelo visto e ouvido, podem comentar os homens como quiserem; mas os rumos estavam pré-traçados. Ninguém abalaria de um milímetro a senda diretriz daqueles vultos.
Dali partimos e marchamos na companhia do Divino Mestre. Este, não mais se separou de uma turba ávida de prodígios. Os dias foram transcorrendo, até a consumação! Negras falanges embaixo; iluminados sóis da espiritualidade em cima. Pareciam estar divididos os ares e os homens entre si.
Maria, ao pé da cruz, estava rodeada de celestes seres. O clarão destes afugentava os representantes do crime e das trevas. Nossos olhos existiam para que quentíssimas lágrimas borbulhassem por eles. Que contrição, meu Deus! Como o coração ficava comprimido!... Remorsos nos roíam por dentro!...
Ó Espírito Excelso, logo após, foi conduzido por elevadíssimos seres; os clarões superiores envolviam-No. A caravana de luz perdeu-se na vastidão profunda do espaço. As gentes ficaram entregues ao burburinho das coisas do mundo. Os sábios falam, bem como os ignorantes, dizendo sim e não; porém, pela disposição das leis superiores, na face da Terra e nos corações de bem, estão as marcas inconfundíveis da VERDADE QUE É.
Uma nota interessante: quando foram dizer a Jesus que o Precursor havia sido morto, Jesus foi para lugar quieto, tendo-o chamado. Que recolhimento, que respeito às leis determinantes do fenômeno! Repetiu por várias vezes o nome de João. Quando este, ou aquela falange de seres celestes apresentou-se, no meio de quem estava João, sorridente e feliz, o Espírito de Jesus, suplantando a barreira da carne, como num transbordar de si, desligou-se e se pôs a falar. Tudo ficou mais claro, muito claro, a ponto de nos termos de afastar... Todavia, ouvimos que Jesus dissera coisas significativas com relação ao triunfo de Seu Precursor, por ter assim findado sua vida, depois de fazer sua parte, para a consecução das profecias e cumprimento delas.
Ao término da bela retrospecção, enorme multidão de iluminados seres pairava sobre o monte, sobre nossas cabeças, havendo uma música nos ares, penetrante ao íntimo de nossas almas, imprimindo-nos uma sensação indizível. E Teóclito falou; ele que estava transfigurado:
— Alguém mais termina um tempo de provas. Esta visão que nos foi concedida é o testemunho de que o Senhor está sempre conosco, passo a passo, em nossas augustas aspirações. Cumpri ordens e dou-me por feliz. Coloquei-os a par com uma realidade que deveria tornar-se conhecida de quem a viveu. Devem concordar em que estas coisas estão todas anotadas nos livros constituintes do Novo Testamento. O que houve foi apenas o testemunho da revivescência, nada mais. Para a destruição destas verdades, preciso será eliminem a Terra e o Seu Cristo. Nenhum homem, contudo, poderia pretender tanto. Dou-lhes meus votos de felicidade, desejando-lhes vitórias sobre vitórias, até que possam vencer a obrigação de encarnar. Que a paz do Senhor reine em seus corações, que Sua Sabedoria lhes norteie nos caminhos da vida, quer aqui, quer no mundo, quando em novas experiências. Adeus...
Choraram nossos olhos, nossos espíritos, de novo, vendo partir tão dócil amigo, no bojo daquela nuvem de luzes gloriosas. Ambrósio falou depois de pouco, convidando-nos a partir. Seguimos vagarosamente em demanda a nossos lares astrais, vencendo zonas, transpondo fronteiras... Nossas mentes estavam absorvidas pelo infinito de impressões recolhidas. Quando alguém se referiu ao passado, Ambrósio considerou:
— Não é um caso de passado; é que sobram matizes por estudar, por considerar, sempre que se revê um quadro, sempre que nos é dado observar novamente um feito. Hoje, por exemplo, pude pensar no quanto os dizeres do Novo Testamento são reais, quando tratam dos pontos fundamentais da vida do Senhor, de Suas caminhadas, de Seus feitos mediúnicos, de Sua morte; mas, também, quantos foram trucidados por aqueles que disso proveito quiseram tirar. Que custaria dizer da vida do Mestre, de Sua passagem pela Escola Profética Hebréia, fundada sob Seus auspícios, desde longínquos dias, desde os Vedas, para servir de tocha iluminadora dos homens, e de onde surgiria, em tempo. Ele mesmo, rasgando o véu do tempo, escancarando os portais dos cenáculos secretos, enviando à carne toda o Consolador, o desbravador de desertos, o advogado, o unificador dos credos?
Uma voz se ouviu, nos espaços, que reboou como um trovão:
— Outrossim, quem jamais conseguiu deter a marcha da VERDADE?...
Nossos pensamentos se fizeram unos. Não mais lentamente demandamos a nossos penates. Num abrir e fechar de olhos, eis-nos em casa. A madrugada ia avançada em nossa região; fomos descansar. Nossos corpos de espírito fremiam, nossos cérebros ardiam, nossas almas estavam sublimadas.
Os dias se foram passando.
Hoje, nas trabalheiras do Consolador restaurado, em tempo reposto no lugar, ganhamos nossas palmas de vitória, lenta mas seguramente. O que fez, o que faz, o que fará o Espiritismo na carne e por aqui, disso todos um dia serão testemunhas fiéis. É Causa. Paira acima dos homens. Os infiéis migrarão para outros planos, planos de purgação dolorosa, onde forçosamente trabalharão por reformas internas, que lhes garantirão, um dia, o direito do mesmo testemunho em prol da mesma VERDADE. Porque sendo ela uma só, um só será o testemunho a dar.
Relativamente aos homens, ou melhor, às suas concepções espiritualistas, temos que afirmar ser cedo para uma compreensão uniforme. O Consolador, que o Divino Mestre instaurou, no dia de Pentecostes, como se lê no capítulo dois do Livro dos Atos, foi em seguida truncado em seu poder ilustrador e reformador, pelos homens menos sensatos.
Debalde o Apóstolo Paulo escrevera tão bem, ensinando qual o sistema de culto dos Apóstolos, na primeira carta aos Coríntios, capítulo quatorze. Aquela disposição aos ensinos da Revelação, muito teria feito a bem do aprimoramento das gentes, espiritualmente, moralmente, intelectualmente, cientificamente. Segundo, porém, as previsões do Mestre, um dia haveria a reposição das coisas no lugar. E aí tem o Espiritismo, aquela mesma Doutrina que Jesus viveu nas ruas, nas praças, nos campos, nas estradas e nos desertos da Palestina.
Nem todos os homens, pois, dado a complexidade da mesologia hierárquica do planeta, poderiam, de chofre, repentinamente, conceber-lhe a excelsitude. Bem sabemos que os arautos da VERDADE foram sempre perseguidos; é que a VERDADE fere o homem em sua incompreensão. Que fazer, então? É simples. Dar muito e pedir pouco ou nada. Quem cumpre com o seu dever, faz isso.
E o bom exemplo vencerá o mundo!
Porque, se no homem há lugar para a moradia dos ronceirismos fanáticos, retardatários e feios, também no homem reside a lei propulsora do progresso rumo às finalidades definidas. E como não se pode ir à VERDADE FUNDAMENTAL, que é de ordem interna, pelos caminhos da viciosidade sectária, exclusivista e mórbida, certo é que do íntimo do próprio homem, terá que surgir, na época precisa e determinadora, o motivo de trânsito à melhor concepção. Fatores de ordens várias forçarão nesse sentido, não alimentem dúvidas. Porque as legiões de Jesus, bem ao rés de suas mais íntimas necessidades, trabalham para que o momento transitivo não se demore em delongas mais sofríveis do que as estritamente necessárias.
É preciso, no entanto, que dêem o melhor dos testemunhos, uma vez que são, presentemente, aquilo com que conta o Mestre para o grande serviço de renovação das mentes e das consciências.

FIM

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