quinta-feira, 1 de maio de 2008

Evangelho Lucas Cap. 1 a 24

Capitulo 1

1 Tendo, pois, muitos empreendido pór em ordem a narraçäo dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra,
3 Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio;
4 Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.
5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Aräo; e o seu nome era Isabel.
6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensäo em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7 E näo tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma,
9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso.
10 E toda a multidäo do povo estava fora, orando, à hora do incenso.
11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.
13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, näo temas, porque a tua oraçäo foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Joäo.
14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegraräo no seu nascimento,
15 Porque será grande diante do Senhor, e näo beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mäe.
16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus,
17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os coraçöes dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
18 Disse entäo Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.
20 E eis que ficarás mudo, e näo poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto näo creste nas minhas palavras, que a seu tempo se häo de cumprir.
21 E o povo estava esperando a Zacarias, e maravilhava-se de que tanto se demorasse no templo.
22 E, saindo ele, näo lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visäo no templo. E falava por acenos, e ficou mudo.
23 E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa.
24 E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo:
25 Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens.
26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29 E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudaçäo seria esta.
30 Disse-lhe, entäo, o anjo: Maria, näo temas, porque achaste graça diante de Deus.
31 E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pór-lhe-ás o nome de Jesus.
32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai;
33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino näo terá fim.
34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que näo conheço homem algum?
35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;
37 Porque para Deus nada é impossível.
38 Disse entäo Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.
39 E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá,
40 E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.
41 E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudaçäo de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.
42 E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
43 E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mäe do meu Senhor?
44 Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudaçäo, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
45 Bem-aventurada a que creu, pois häo de cumprir-se as coisas que da parte do SENHOR lhe foram ditas.
46 Disse entäo Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,
47 E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
48 Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as geraçöes me chamaräo bem-aventurada,
49 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome.
50 E a sua misericórdia é de geraçäo em geraçäo Sobre os que o temem.
51 Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos no pensamento de seus coraçöes.
52 Depós dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.
53 Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos.
54 Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia;
55 Como falou a nossos pais, Para com Abraäo e a sua posteridade, para sempre.
56 E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa.
57 E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
58 E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
59 E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.
60 E, respondendo sua mäe, disse: Näo, porém será chamado Joäo.
61 E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
62 E perguntaram por acenos ao pai como queria que lhe chamassem.
63 E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é Joäo. E todos se maravilharam.
64 E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
65 E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas.
66 E todos os que as ouviam as conservavam em seus coraçöes, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mäo do Senhor estava com ele.
67 E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo:
68 Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo,
69 E nos levantou uma salvaçäo poderosa Na casa de Davi seu servo.
70 Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo;
71 Para nos livrar dos nossos inimigos e da mäo de todos os que nos odeiam;
72 Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança,
73 E do juramento que jurou a Abraäo nosso pai,
74 De conceder-nos que, Libertados da mäo de nossos inimigos, o serviríamos sem temor,
75 Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida.
76 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77 Para dar ao seu povo conhecimento da salvaçäo, Na remissäo dos seus pecados;
78 Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;
79 Para iluminar aos que estäo assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
80 E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.

Capitulo 2

1 E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse
2 (Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria).
3 E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.
4 E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi),
5 A fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
6 E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz.
7 E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque näo havia lugar para eles na estalagem.
8 Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho.
9 E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.
10 E o anjo lhes disse: Näo temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo:
11 Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
12 E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura.
13 E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidäo dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo:
14 Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.
15 E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber.
16 E foram apressadamente, e acharam Maria, e José, e o menino deitado na manjedoura.
17 E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita;
18 E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam.
19 Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coraçäo.
20 E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.
21 E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
22 E, cumprindo-se os dias da purificaçäo dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor
23 (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor);
24 E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos.
25 Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeäo; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolaçäo de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.
26 E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele näo morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor.
27 E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei,
28 Ele, entäo, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse:
29 Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra;
30 Pois já os meus olhos viram a tua salvaçäo,
31 A qual tu preparaste perante a face de todos os povos;
32 Luz para iluminar as naçöes, E para glória de teu povo Israel.
33 E José, e sua mäe, se maravilharam das coisas que dele se diziam.
34 E Simeäo os abençoou, e disse a Maria, sua mäe: Eis que este é posto para queda e elevaçäo de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado
35 (E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos coraçöes.
36 E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade;
37 E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e näo se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e oraçöes, de noite e de dia.
38 E sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus, e falava dele a todos os que esperavam a redençäo em Jerusalém.
39 E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para a sua cidade de Nazaré.
40 E o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.
41 Ora, todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa;
42 E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.
43 E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e näo o soube José, nem sua mäe.
44 Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos;
45 E, como o näo encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele.
46 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os.
47 E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.
48 E quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mäe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos.
49 E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Näo sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?
50 E eles näo compreenderam as palavras que lhes dizia.
51 E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mäe guardava no seu coraçäo todas estas coisas.
52 E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.

Capitulo 3

1 E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Póncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmäo Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisánias tetrarca de Abilene,
2 Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a Joäo, filho de Zacarias.
3 E percorreu toda a terra ao redor do Jordäo, pregando o batismo de arrependimento, para o perdäo dos pecados;
4 Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas.
5 Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanaräo;
6 E toda a carne verá a salvaçäo de Deus.
7 Dizia, pois, Joäo à multidäo que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e näo comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraäo por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraäo.
9 E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que näo dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.
10 E a multidäo o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
11 E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que näo tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.
12 E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13 E ele lhes disse: Näo peçais mais do que o que vos está ordenado.
14 E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.
15 E, estando o povo em expectaçäo, e pensando todos de Joäo, em seus coraçöes, se porventura seria o Cristo,
16 Respondeu Joäo a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual näo sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
17 Ele tem a pá na sua mäo; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.
18 E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.
19 Sendo, porém, o tetrarca Herodes repreendido por ele por causa de Herodias, mulher de seu irmäo Filipe, e por todas as maldades que Herodes tinha feito,
20 Acrescentou a todas as outras ainda esta, a de encerrar Joäo num cárcere.
21 E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu;
22 E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.
23 E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José de Heli,
24 E Heli de Matä, e Matä de Levi, e Levi de Melqui, e Melqui de Janai, e Janai de José,
25 E José de Matatias, e Matatias de Amós, e Amós de Naum, e Naum de Esli, e Esli de Nagaí,
26 E Nagaí de Máate, e Máate de Matatias, e Matatias de Semei, e Semei de José, e José de Jodá,
27 E Jodá de Joanä, e Joanä de Resá, e Resá de Zorobabel, e Zorobabel de Salatiel, e Salatiel de Neri,
28 E Neri de Melqui, e Melqui de Adi, e Adi de Cosä, e Cosä de Elmadä, e Elmadä de Er,
29 E Er de Josué, e Josué de Eliézer, e Eliézer de Jorim, e Jorim de Matä, e Matä de Levi,
30 E Levi de Simeäo, e Simeäo de Judá, e Judá de José, e José de Jonä, e Jonä de Eliaquim,
31 E Eliaquim de Meleá, e Meleá de Mená, e Mená de Matatá, e Matatá de Natä, e Natä de Davi,
32 E Davi de Jessé, e Jessé de Obede, e Obede de Boaz, e Boaz de Salá, e Salá de Naassom,
33 E Naassom de Aminadabe, e Aminadabe de Aräo, e Aräo de Esrom, e Esrom de Parez, e Perez de Judá,
34 E Judá de Jacó, e Jacó de Isaque, e Isaque de Abraäo, e Abraäo de Terá, e Terá de Nacor,
35 E Nacor de Seruque, e Seruque de Ragaú, e Ragaú de Fáleque, e Fáleque de Éber, e Éber de Salá,
36 E Salá de Cainä, e Cainä de Arfaxade, e Arfaxade de Sem, e Sem de Noé, e Noé de Lameque,
37 E Lameque de Metusalém, e Metusalém de Enoque, e Enoque de Jarete, e Jarete de Maleleel, e Maleleel de Cainä,
38 E Cainä de Enos, e Enos de Sete, e Sete de Adäo, e Adäo de Deus.

Capitulo 4

1 E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordäo e foi levado pelo Espírito ao deserto;
2 E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias näo comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
3 E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em päo.
4 E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de päo viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.
5 E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o SENHOR teu Deus, e só a ele servirás.
9 Levou-o também a Jerusalém, e pó-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10 Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
11 E que te sustenham nas mäos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
12 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Näo tentarás ao Senhor teu Deus.
13 E, acabando o diabo toda a tentaçäo, ausentou-se dele por algum tempo.
14 Entäo, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor.
15 E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.
16 E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
18 O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coraçäo,
19 A pregar liberdade aos cativos, E restauraçäo da vista aos cegos, A pór em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor.
20 E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21 Entäo começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.
22 E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Näo é este o filho de José?
23 E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
24 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
25 Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;
26 E a nenhuma delas foi enviado Elias, senäo a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva.
27 E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senäo Naamä, o siro.
28 E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
29 E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.
30 Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.
31 E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados.
32 E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.
33 E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demónio imundo, e exclamou em alta voz,
34 Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus.
35 E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demónio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.
36 E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem?
37 E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.
38 Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simäo; e a sogra de Simäo estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela.
39 E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
40 E, ao pór do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mäos sobre cada um deles, os curava.
41 E também de muitos saíam demónios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, näo os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
42 E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto; e a multidäo o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que näo se ausentasse deles.
43 Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado.
44 E pregava nas sinagogas da Galiléia.

Capitulo 5

1 E aconteceu que, apertando-o a multidäo, para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré;
2 E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes.
3 E, entrando num dos barcos, que era o de Simäo, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidäo.
4 E, quando acabou de falar, disse a Simäo: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.
5 E, respondendo Simäo, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede.
6 E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.
7 E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.
8 E vendo isto Simäo Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador.
9 Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito.
10 E, de igual modo, também de Tiago e Joäo, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simäo. E disse Jesus a Simäo: Näo temas; de agora em diante serás pescador de homens.
11 E, levando os barcos para terra, deixaram tudo, e o seguiram.
12 E aconteceu que, quando estava numa daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se sobre o rosto, e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me.
13 E ele, estendendo a mäo, tocou-lhe, dizendo: Quero, sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele.
14 E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote, e oferece, pela tua purificaçäo, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de testemunho.
15 A sua fama, porém, se propagava ainda mais, e ajuntava-se muita gente para o ouvir e para ser por ele curada das suas enfermidades.
16 Ele, porém, retirava-se para os desertos, e ali orava.
17 E aconteceu que, num daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava com ele para curar.
18 E eis que uns homens transportaram numa cama um homem que estava paralítico, e procuravam fazê-lo entrar e pó-lo diante dele.
19 E, näo achando por onde o pudessem levar, por causa da multidäo, subiram ao telhado, e por entre as telhas o baixaram com a cama, até ao meio, diante de Jesus.
20 E, vendo ele a fé deles, disse-lhe: Homem, os teus pecados te säo perdoados.
21 E os escribas e os fariseus começaram a arrazoar, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senäo só Deus?
22 Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Que arrazoais em vossos coraçöes?
23 Qual é mais fácil? dizer: Os teus pecados te säo perdoados; ou dizer: Levanta-te, e anda?
24 Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa.
25 E, levantando-se logo diante deles, e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa, glorificando a Deus.
26 E todos ficaram maravilhados, e glorificaram a Deus; e ficaram cheios de temor, dizendo: Hoje vimos prodígios.
27 E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me.
28 E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.
29 E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; e havia ali uma multidäo de publicanos e outros que estavam com eles à mesa.
30 E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?
31 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Näo necessitam de médico os que estäo säos, mas, sim, os que estäo enfermos;
32 Eu näo vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.
33 Disseram-lhe, entäo, eles: Por que jejuam os discípulos de Joäo muitas vezes, e fazem oraçöes, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem?
34 E ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?
35 Dias viräo, porém, em que o esposo lhes será tirado, e entäo, naqueles dias, jejuaräo.
36 E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo näo condiz com a velha.
37 E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragaräo;
38 Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservaräo.
39 E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.

Capitulo 6

1 E aconteceu que, no sábado segundo-primeiro, passou pelas searas, e os seus discípulos iam arrancando espigas e, esfregando-as com as mäos, as comiam.
2 E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que näo é lícito fazer nos sábados?
3 E Jesus, respondendo-lhes, disse: Nunca lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que com ele estavam?
4 Como entrou na casa de Deus, e tomou os päes da proposiçäo, e os comeu, e deu também aos que estavam com ele, os quais näo é lícito comer senäo só aos sacerdotes?
5 E dizia-lhes: O Filho do homem é Senhor até do sábado.
6 E aconteceu também noutro sábado, que entrou na sinagoga, e estava ensinando; e havia ali um homem que tinha a mäo direita mirrada.
7 E os escribas e fariseus observavam-no, se o curaria no sábado, para acharem de que o acusar.
8 Mas ele bem conhecia os seus pensamentos; e disse ao homem que tinha a mäo mirrada: Levanta-te, e fica em pé no meio. E, levantando-se ele, ficou em pé.
9 Entäo Jesus lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar?
10 E, olhando para todos em redor, disse ao homem: Estende a tua mäo. E ele assim o fez, e a mäo lhe foi restituída sä como a outra.
11 E ficaram cheios de furor, e uns com os outros conferenciavam sobre o que fariam a Jesus.
12 E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oraçäo a Deus.
13 E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos:
14 Simäo, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmäo; Tiago e Joäo; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simäo, chamado Zelote;
16 E Judas, irmäo de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.
17 E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidäo de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades,
18 Como também os atormentados dos espíritos imundos; e eram curados.
19 E toda a multidäo procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude, e curava a todos.
20 E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
22 Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.
23 Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardäo no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas.
24 Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolaçäo.
25 Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis.
26 Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.
27 Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam;
28 Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.
29 Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses;
30 E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, näo lho tornes a pedir.
31 E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também.
32 E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam.
33 E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo.
34 E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto.
35 Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardäo, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.
36 Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
37 Näo julgueis, e näo sereis julgados; näo condeneis, e näo sereis condenados; soltai, e soltar-vos-äo.
38 Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitaräo no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos mediräo de novo.
39 E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Näo cairäo ambos na cova?
40 O discípulo näo é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre.
41 E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmäo, e näo reparas na trave que está no teu próprio olho?
42 Ou como podes dizer a teu irmäo: Irmäo, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, näo atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e entäo verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmäo.
43 Porque näo há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.
44 Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois näo se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos.
45 O homem bom, do bom tesouro do seu coraçäo tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coraçäo tira o mal, porque da abundáncia do seu coraçäo fala a boca.
46 E por que me chamais, Senhor, Senhor, e näo fazeis o que eu digo?
47 Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as ob-serva, eu vos mostrarei a quem é semelhante:
48 É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e näo a póde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.
49 Mas o que ouve e näo pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.

Capitulo 7

1 E, depois de concluir todos estes discursos perante o povo, entrou em Cafarnaum.
2 E o servo de um certo centuriäo, a quem muito estimava, estava doente, e moribundo.
3 E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciäos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo.
4 E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto,
5 Porque ama a nossa naçäo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga.
6 E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centuriäo uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, näo te incomodes, porque näo sou digno de que entres debaixo do meu telhado.
7 E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará.
8 Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.
9 E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-se dele, e voltando-se, disse à multidäo que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé.
10 E, voltando para casa os que foram enviados, acharam säo o servo enfermo.
11 E aconteceu que, no dia seguinte, ele foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidäo;
12 E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mäe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidäo da cidade.
13 E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixäo por ela, e disse-lhe: Näo chores.
14 E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se, e começou a falar.
15 E entregou-o a sua mäe.
16 E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo.
17 E correu dele esta fama por toda a Judéia e por toda a terra circunvizinha.
18 E os discípulos de Joäo anunciaram-lhe todas estas coisas.
19 E Joäo, chamando dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
20 E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: Joäo o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
21 E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos.
22 Respondendo, entäo, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a Joäo o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos säo purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho.
23 E bem-aventurado é aquele que em mim se näo escandalizar.
24 E, tendo-se retirado os mensageiros de Joäo, começou a dizer à multidäo acerca de Joäo: Que saístes a ver no deserto? uma cana abalada pelo vento?
25 Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes delicadas? Eis que os que andam com preciosas vestiduras, e em delícias, estäo nos paços reais.
26 Mas que saístes a ver? um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.
27 Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, O qual preparará diante de ti o teu caminho.
28 E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, näo há maior profeta do que Joäo o Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.
29 E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de Joäo, justificaram a Deus.
30 Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, näo tendo sido batizados por ele.
31 E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geraçäo, e a quem säo semelhantes?
32 Säo semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e näo dançastes; cantamo-vos lamentaçöes, e näo chorastes.
33 Porque veio Joäo o Batista, que näo comia päo nem bebia vinho, e dizeis: Tem demónio;
34 Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comiläo e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores.
35 Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.
36 E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa.
37 E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento;
38 E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento.
39 Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.
40 E respondendo, Jesus disse-lhe: Simäo, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
41 Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta.
42 E, näo tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
43 E Simäo, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.
44 E, voltando-se para a mulher, disse a Simäo: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e näo me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.
45 Näo me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, näo tem cessado de me beijar os pés.
46 Näo me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento.
47 Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe säo perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.
48 E disse-lhe a ela: Os teus pecados te säo perdoados.
49 E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados?
50 E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.

Capitulo 8

1 E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele,
2 E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demónios;
3 E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens.
4 E, ajuntando-se uma grande multidäo, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola:
5 Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram;
6 E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que näo tinha umidade;
7 E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram;
8 E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
9 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta?
10 E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, näo vejam, e ouvindo, näo entendam.
11 Esta é, pois, a parábola: A semente é a palavra de Deus;
12 E os que estäo junto do caminho, estes säo os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coraçäo a palavra, para que näo se salvem, crendo;
13 E os que estäo sobre pedra, estes säo os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como näo têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentaçäo se desviam;
14 E a que caiu entre espinhos, esses säo os que ouviram e, indo por diante, säo sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e näo däo fruto com perfeiçäo;
15 E a que caiu em boa terra, esses säo os que, ouvindo a palavra, a conservam num coraçäo honesto e bom, e däo fruto com perseverança.
16 E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a pöe debaixo da cama; mas pöe-na no velador, para que os que entram vejam a luz.
17 Porque näo há coisa oculta que näo haja de manifestar-se, nem escondida que näo haja de saber-se e vir à luz.
18 Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que näo tiver até o que parece ter lhe será tirado.
19 E foram ter com ele sua mäe e seus irmäos, e näo podiam aproximar-se dele, por causa da multidäo.
20 E foi-lhe dito: Estäo lá fora tua mäe e teus irmäos, que querem ver-te.
21 Mas, respondendo ele, disse-lhes: Minha mäe e meus irmäos säo aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam.
22 E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: Passemos para o outro lado do lago. E partiram.
23 E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água, estando em perigo.
24 E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança.
25 E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?
26 E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galiléia.
27 E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demónios, e näo andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
28 E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com grande voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que näo me atormentes.
29 Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no preso, com grilhöes e cadeias; mas, quebrando as prisöes, era impelido pelo demónio para os desertos.
30 E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legiäo; porque tinham entrado nele muitos demónios.
31 E rogavam-lhe que os näo mandasse para o abismo.
32 E andava ali pastando no monte uma vara de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho.
33 E, tendo saído os demónios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago, e afogou-se.
34 E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.
35 E saíram a ver o que tinha acontecido, e vieram ter com Jesus. Acharam entäo o homem, de quem haviam saído os demónios, vestido, e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram.
36 E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado.
37 E toda a multidäo da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. E entrando ele no barco, voltou.
38 E aquele homem, de quem haviam saído os demónios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:
39 Torna para tua casa, e conta quäo grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quäo grandes coisas Jesus lhe tinha feito.
40 E aconteceu que, quando voltou Jesus, a multidäo o recebeu, porque todos o estavam esperando.
41 E eis que chegou um homem de nome Jairo, que era príncipe da sinagoga; e, prostrando-se aos pés de Jesus, rogava-lhe que entrasse em sua casa;
42 Porque tinha uma filha única, quase de doze anos, que estava à morte. E indo ele, apertava-o a multidäo.
43 E uma mulher, que tinha um fluxo de sangue, havia doze anos, e gastara com os médicos todos os seus haveres, e por nenhum pudera ser curada,
44 Chegando por detrás dele, tocou na orla do seu vestido, e logo estancou o fluxo do seu sangue.
45 E disse Jesus: Quem é que me tocou? E, negando todos, disse Pedro e os que estavam com ele: Mestre, a multidäo te aperta e te oprime, e dizes: Quem é que me tocou?
46 E disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude.
47 Entäo, vendo a mulher que näo podia ocultar-se, aproximou-se tremendo e, prostrando-se ante ele, declarou-lhe diante de todo o povo a causa por que lhe havia tocado, e como logo sarara.
48 E ele lhe disse: Tem bom ánimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.
49 Estando ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, näo incomodes o Mestre.
50 Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe, dizendo: Näo temas; crê somente, e será salva.
51 E, entrando em casa, a ninguém deixou entrar, senäo a Pedro, e a Tiago, e a Joäo, e ao pai e a mäe da menina.
52 E todos choravam, e a pranteavam; e ele disse: Näo choreis; näo está morta, mas dorme.
53 E riam-se dele, sabendo que estava morta.
54 Mas ele, pondo-os todos fora, e pegando-lhe na mäo, clamou, dizendo: Levanta-te, menina.
55 E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer.
56 E seus pais ficaram maravilhados; e ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia sucedido.

Capitulo 9

1 E, CONVOCANDO os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, para curarem enfermidades.
2 E enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos.
3 E disse-lhes: Nada leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas.
4 E em qualquer casa em que entrardes, ficai ali, e de lá saireis.
5 E se em qualquer cidade vos não receberem, saindo vós dali, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.
6 E, saindo eles, percorreram todas as aldeias, anunciando o evangelho, e fazendo curas por toda a parte.
7 E o tetrarca Herodes ouviu todas as coisas que por ele foram feitas, e estava em dúvida, porque diziam alguns que João ressuscitara dentre os mortos; e outros que Elias tinha aparecido;
8 E outros que um profeta dos antigos havia ressuscitado.
9 E disse Herodes: A João mandei eu degolar; quem é, pois, este de quem ouço dizer tais coisas? E procurava vê-lo.
10 E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida.
11 E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura.
12 E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos lugares e aldeias em redor, se agasalhem, e achem que comer; porque aqui estamos em lugar deserto.
13 Mas ele lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes, salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo.
14 Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse, então, aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em ranchos de cinqüenta em cinqüenta.
15 E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos.
16 E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão.
17 E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram, do que lhes sobejou, doze alcofas de pedaços.
18 E aconteceu que, estando ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?
19 E, respondendo eles, disseram: João o Batista; outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou.
20 E disse-lhes: E vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus.
21 E, admoestando-os, mandou que a ninguém referissem isso,
22 Dizendo: É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia.
23 E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.
24 Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.
25 Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?
26 Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos.
27 E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus.
28 E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar.
29 E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente.
30 E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias,
31 Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.
32 E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele.
33 E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.
34 E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram.
35 E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi.
36 E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.
37 E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão;
38 E eis que um homem da multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho.
39 Eis que um espírito o toma e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado.
40 E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.
41 E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me aqui o teu filho.
42 E, quando vinha chegando, o demônio o derrubou e convulsionou; porém, Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai.
43 E todos pasmavam da majestade de Deus. E, maravilhando-se todos de todas as coisas que Jesus fazia, disse aos seus discípulos:
44 Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens.
45 Mas eles não entendiam esta palavra, que lhes era encoberta, para que a não compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca desta palavra.
46 E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
47 Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si,
48 E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande.
49 E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco.
50 E Jesus lhes disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.
51 E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.
52 E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada,
53 Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.
54 E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?
55 Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.
56 Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.
57 E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
58 E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
59 E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: SENHOR, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
60 Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.
61 Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
62 E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

Capitulo 10

1 E DEPOIS disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
2 E dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.
3 Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.
4 Não leveis bolsa, nem alforje, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho.
5 E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: Paz seja nesta casa.
6 E, se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; e, se não, voltará para vós.
7 E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa.
8 E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido.
9 E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.
10 Mas em qualquer cidade, em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei:
11 Até o pó, que da vossa cidade se nos pegou, sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o reino de Deus é chegado a vós.
12 E digo-vos que mais tolerância haverá naquele dia para Sodoma do que para aquela cidade.
13 Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido.
14 Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no juízo, do que para vós.
15 E tu, Cafarnaum, que te levantaste até ao céu, até ao inferno serás abatida.
16 Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou.
17 E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam.
18 E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu.
19 Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum.
20 Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.
21 Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.
22 Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
23 E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes.
24 Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.
25 E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26 E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
27 E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
29 Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
30 E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31 E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
32 E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
33 Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
34 E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
35 E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
36 Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37 E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.
38 E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa;
39 E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.
40 Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.
41 E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária;
42 E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.

Capítulo 11

1 E ACONTECEU que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
2 E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra, como no céu.
3 Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano;
4 E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve, e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal.
5 Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
6 Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe;
7 Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar;
8 Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.
9 E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
10 Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.
11 E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
12 Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
13 Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
14 E estava ele expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; e maravilhou-se a multidão.
15 Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios.
16 E outros, tentando-o, pediam-lhe um sinal do céu.
17 Mas, conhecendo ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá.
18 E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu.
19 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles, pois, serão os vossos juízes.
20 Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus.
21 Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem;
22 Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.
23 Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
24 Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa, de onde saí.
25 E, chegando, acha-a varrida e adornada.
26 Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro.
27 E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste.
28 Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.
29 E, ajuntando-se a multidão, começou a dizer: Maligna é esta geração; ela pede um sinal; e não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas;
30 Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração.
31 A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão.
32 Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.
33 E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz.
34 A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso.
35 Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas.
36 Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te ilumina com o seu resplendor.
37 E, estando ele ainda falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa.
38 Mas o fariseu admirou-se, vendo que não se lavara antes de jantar.
39 E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade.
40 Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?
41 Antes dai esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo.
42 Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.
43 Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças.
44 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem.
45 E, respondendo um dos doutores da lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós.
46 E ele lhe disse: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas.
47 Ai de vós que edificais os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram.
48 Bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros.
49 Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros;
50 Para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado;
51 Desde o sangue de Abel, até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração.
52 Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam.
53 E, dizendo-lhes ele isto, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a fazê-lo falar acerca de muitas coisas,
54 Armando-lhe ciladas, e procurando apanhar da sua boca alguma coisa para o acusarem.

Capítulo 12

1 AJUNTANDO-SE entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
2 Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.
3 Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.
4 E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer.
5 Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.
6 Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido diante de Deus.
7 E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
8 E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
9 Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus.
10 E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado.
11 E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer.
12 Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar.
13 E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.
14 Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?
15 E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
16 E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância;
17 E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos.
18 E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens;
19 E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.
20 Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
21 Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
22 E disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
23 Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.
24 Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves?
25 E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26 Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
27 Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28 E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29 Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
30 Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
31 Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
32 Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.
33 Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.
34 Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
35 Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.
36 E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe.
37 Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá.
38 E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos.
39 Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa.
40 Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais.
41 E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
42 E disse o SENHOR: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43 Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44 Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá.
45 Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se,
46 Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47 E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48 Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.
49 Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?
50 Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!
51 Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão;
52 Porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.
53 O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.
54 E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede.
55 E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede.
56 Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?
57 E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?
58 Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão.
59 Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.

Capítulo 13

1 E, NAQUELE mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
2 E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas?
3 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
4 E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém?
5 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
6 E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando;
7 E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?
8 E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque;
9 E, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar.
10 E ensinava no sábado, numa das sinagogas.
11 E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se.
12 E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade.
13 E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus.
14 E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado.
15 Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber?
16 E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?
17 E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.
18 E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei?
19 É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.
20 E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus?
21 É semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou.
22 E percorria as cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém.
23 E disse-lhe um: Senhor, são poucos os que se salvam? E ele lhe respondeu:
24 Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.
25 Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, SENHOR, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois;
26 Então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas.
27 E ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade.
28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora.
29 E virão do oriente, e do ocidente, e do norte, e do sul, e assentar-se-ão à mesa no reino de Deus.
30 E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros.
31 Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te.
32 E respondeu-lhes: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado.
33 Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.
34 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?
35 Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Capítulo 14

1 ACONTECEU num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando.
2 E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico.
3 E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?
4 Eles, porém, calaram-se. E, tomando-o, o curou e despediu.
5 E disse-lhes: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?
6 E nada lhe podiam replicar sobre isto.
7 E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes:
8 Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu;
9 E, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar.
10 Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa.
11 Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.
12 E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado.
13 Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos,
14 E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos.
15 E, ouvindo isto, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus.
16 Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos.
17 E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado.
18 E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado.
19 E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado.
20 E outro disse: Casei, e portanto não posso ir.
21 E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.
22 E disse o servo: SENHOR, feito está como mandaste; e ainda há lugar.
23 E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.
24 Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.
25 Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe:
26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,
30 Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
32 De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
33 Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.
34 Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se há de salgar?
35 Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Capítulo 15

1 E CHEGAVAM-SE a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
2 E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
3 E ele lhes propôs esta parábola, dizendo:
4 Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?
5 E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso;
6 E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.
7 Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.
8 Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?
9 E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.
10 Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
11 E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
12 E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
13 E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
14 E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
15 E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
16 E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
17 E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
18 Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
19 Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
20 E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;
23 E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
24 Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.
25 E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças.
26 E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
27 E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
28 Mas ele se indignou, e não queria entrar.
29 E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
30 Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
31 E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
32 Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.

Capítulo 16

1 E DIZIA também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens.
2 E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo.
3 E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha.
4 Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
5 E, chamando a si cada um dos devedores do seu SENHOR, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
6 E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta.
7 Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta.
8 E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.
9 E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
10 Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
11 Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
12 E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
13 Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
14 E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele.
15 E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.
16 A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele.
17 E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei.
18 Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.
19 Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.
20 Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele;
21 E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.
22 E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.
23 E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.
24 E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
25 Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.
26 E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.
27 E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
28 Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.
29 Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
30 E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.
31 Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

Capitulo 17

1 E disse aos discípulos: É impossível que näo venham escándalos, mas ai daquele por quem vierem!
2 Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos.
3 Olhai por vós mesmos. E, se teu irmäo pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.
4 E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.
5 Disseram entäo os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé.
6 E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um gräo de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.
7 E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te, e assenta-te à mesa?
8 E näo lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu?
9 Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que näo.
10 Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
11 E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia;
12 E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe;
13 E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.
14 E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos.
15 E um deles, vendo que estava säo, voltou glorificando a Deus em alta voz;
16 E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
17 E, respondendo Jesus, disse: Näo foram dez os limpos? E onde estäo os nove?
18 Näo houve quem voltasse para dar glória a Deus senäo este estrangeiro?
19 E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
20 E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus näo vem com aparência exterior.
21 Nem diräo: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.
22 E disse aos discípulos: Dias viräo em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e näo o vereis.
23 E dir-vos-äo: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali. Näo vades, nem os sigais;
24 Porque, como o relámpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia.
25 Mas primeiro convém que ele padeça muito, e seja reprovado por esta geraçäo.
26 E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem.
27 Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos.
28 Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam;
29 Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos.
30 Assim será no dia em que o Filho do homem se há de manifestar.
31 Naquele dia, quem estiver no telhado, tendo as suas alfaias em casa, näo desça a tomá-las; e, da mesma sorte, o que estiver no campo näo volte para trás.
32 Lembrai-vos da mulher de Ló.
33 Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á.
34 Digo-vos que naquela noite estaräo dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado.
35 Duas estaräo juntas, moendo; uma será tomada, e outra será deixada.
36 Dois estaräo no campo; um será tomado, o outro será deixado.
37 E, respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se ajuntaräo as águias.

Capitulo 18

1 E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer,
2 Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem.
3 Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário.
4 E por algum tempo näo quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que näo temo a Deus, nem respeito os homens,
5 Todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim näo volte, e me importune muito.
6 E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz.
7 E Deus näo fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?
8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?
9 E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:
10 Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.
11 O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou porque näo sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
12 Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
13 O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e näo aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.
15 E traziam-lhe também meninos, para que ele lhes tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam-nos.
16 Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e näo os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.
17 Em verdade vos digo que, qualquer que näo receber o reino de Deus como menino, näo entrará nele.
18 E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?
19 Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senäo um, que é Deus.
20 Sabes os mandamentos: Näo adulterarás, näo matarás, näo furtarás, näo dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mäe.
21 E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade.
22 E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me.
23 Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico.
24 E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quäo dificilmente entraräo no reino de Deus os que têm riquezas!
25 Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
26 E os que ouviram isto disseram: Logo quem pode salvar-se?
27 Mas ele respondeu: As coisas que säo impossíveis aos homens säo possíveis a Deus.
28 E disse Pedro: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.
29 E ele lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmäos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus,
30 Que näo haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.
31 E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito;
32 Pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido;
33 E, havendo-o açoitado, o mataräo; e ao terceiro dia ressuscitará.
34 E eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, näo percebendo o que se lhes dizia.
35 E aconteceu que chegando ele perto de Jericó, estava um cego assentado junto do caminho, mendigando.
36 E, ouvindo passar a multidäo, perguntou que era aquilo.
37 E disseram-lhe que Jesus Nazareno passava.
38 Entäo clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim.
39 E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!
40 Entäo Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe,
41 Dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja.
42 E Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou.
43 E logo viu, e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.

Capitulo 19

1 E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.
2 E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.
3 E procurava ver quem era Jesus, e näo podia, por causa da multidäo, pois era de pequena estatura.
4 E, correndo adiante, subiu a um sicómoro brava para o ver; porque havia de passar por ali.
5 E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.
6 E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.
7 E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.
8 E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
9 E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvaçäo a esta casa, pois também este é filho de Abraäo.
10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
11 E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus.
12 Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois.
13 E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.
14 Mas os seus concidadäos odiavam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Näo queremos que este reine sobre nós.
15 E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando.
16 E veio o primeiro, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
17 E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.
18 E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.
19 E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades.
20 E veio outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço;
21 Porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que näo puseste, e segas o que näo semeaste.
22 Porém, ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que näo pus, e sego o que näo semeei;
23 Por que näo puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?
24 E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas.
25 (E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas.)
26 Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que näo tiver, até o que tem lhe será tirado.
27 E quanto àqueles meus inimigos que näo quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.
28 E, dito isto, ia caminhando adiante, subindo para Jerusalém.
29 E aconteceu que, chegando perto de Betfagé, e de Betánia, ao monte chamado das Oliveiras, mandou dois dos seus discípulos,
30 Dizendo: Ide à aldeia que está defronte, e aí, ao entrar, achareis preso um jumentinho em que nenhum homem ainda montou; soltai-o e trazei-o.
31 E, se alguém vos perguntar: Por que o soltais? assim lhe direis: Porque o Senhor o há de mister.
32 E, indo os que haviam sido mandados, acharam como lhes dissera.
33 E, quando soltaram o jumentinho, seus donos lhes disseram: Por que soltais o jumentinho?
34 E eles responderam: O Senhor o há de mister.
35 E trouxeram-no a Jesus; e, lançando sobre o jumentinho as suas vestes, puseram Jesus em cima.
36 E, indo ele, estendiam no caminho as suas vestes.
37 E, quando já chegava perto da descida do Monte das Oliveiras, toda a multidäo dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto,
38 Dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.
39 E disseram-lhe de entre a multidäo alguns dos fariseus: Mestre, repreende os teus discípulos.
40 E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamaräo.
41 E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela,
42 Dizendo: Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos.
43 Porque dias viräo sobre ti, em que os teus inimigos te cercaräo de trincheiras, e te sitiaräo, e te estreitaräo de todos os lados;
44 E te derrubaräo, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e näo deixaräo em ti pedra sobre pedra, pois que näo conheceste o tempo da tua visitaçäo.
45 E, entrando no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam,
46 Dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oraçäo; mas vós fizestes dela covil de salteadores.
47 E todos os dias ensinava no templo; mas os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo procuravam matá-lo.
48 E näo achavam meio de o fazer, porque todo o povo pendia para ele, escutando-o.

Capitulo 20

1 E aconteceu num daqueles dias que, estando ele ensinando o povo no templo, e anunciando o evangelho, sobrevieram os principais dos sacerdotes e os escribas com os anciäos,
2 E falaram-lhe, dizendo: Dize-nos, com que autoridade fazes estas coisas? Ou, quem é que te deu esta autoridade?
3 E, respondendo ele, disse-lhes: Também eu vos farei uma pergunta: Dizei-me pois:
4 O batismo de Joäo era do céu ou dos homens?
5 E eles arrazoavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Entäo por que o näo crestes?
6 E se dissermos: Dos homens; todo o povo nos apedrejará, pois têm por certo que Joäo era profeta.
7 E responderam que näo sabiam de onde era.
8 E Jesus lhes disse: Tampouco vos direi com que autoridade faço isto.
9 E começou a dizer ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra por muito tempo;
10 E no tempo próprio mandou um servo aos lavradores, para que lhe dessem dos frutos da vinha; mas os lavradores, espancando-o, mandaram-no vazio.
11 E tornou ainda a mandar outro servo; mas eles, espancando também a este, e afrontando-o, mandaram-no vazio.
12 E tornou ainda a mandar um terceiro; mas eles, ferindo também a este, o expulsaram.
13 E disse o senhor da vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado; talvez, vendo-o, seja respeitado.
14 Mas, vendo-o os lavradores, arrazoaram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, para que a herança seja nossa.
15 E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?
16 Irá, e destruirá estes lavradores, e dará a outros a vinha. E, ouvindo eles isto, disseram: Näo seja assim!
17 Mas ele, olhando para eles, disse: Que é isto, pois, que está escrito? A pedra, que os edificadores reprovaram, Essa foi feita cabeça da esquina.
18 Qualquer que cair sobre aquela pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair será feito em pó.
19 E os principais dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar mäo dele naquela mesma hora; mas temeram o povo; porque entenderam que contra eles dissera esta parábola.
20 E, observando-o, mandaram espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra, e o entregarem à jurisdiçäo e poder do presidente.
21 E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que näo consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus.
22 É-nos lícito dar tributo a César ou näo?
23 E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais?
24 Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscriçäo? E, respondendo eles, disseram: De César.
25 Disse-lhes entäo: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
26 E näo puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se.
27 E, chegando-se alguns dos saduceus, que dizem näo haver ressurreiçäo, perguntaram-lhe,
28 Dizendo: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmäo de algum falecer, tendo mulher, e näo deixar filhos, o irmäo dele tome a mulher, e suscite posteridade a seu irmäo.
29 Houve, pois, sete irmäos, e o primeiro tomou mulher, e morreu sem filhos;
30 E tomou-a o segundo por mulher, e ele morreu sem filhos.
31 E tomou-a o terceiro, e igualmente também os sete; e morreram, e näo deixaram filhos.
32 E por último, depois de todos, morreu também a mulher.
33 Portanto, na ressurreiçäo, de qual deles será a mulher, pois que os sete por mulher a tiveram?
34 E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e däo-se em casamento;
35 Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreiçäo dentre os mortos, nem häo de casar, nem ser dados em casamento;
36 Porque já näo podem mais morrer; pois säo iguais aos anjos, e säo filhos de Deus, sendo filhos da ressurreiçäo.
37 E que os mortos häo de ressuscitar também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraäo, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó.
38 Ora, Deus näo é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos.
39 E, respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre, disseste bem.
40 E näo ousavam perguntar-lhe mais coisa alguma.
41 E ele lhes disse: Como dizem que o Cristo é filho de Davi?
42 Visto como o mesmo Davi diz no livro dos Salmos: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
43 Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
44 Se Davi lhe chama Senhor, como é ele seu filho?
45 E, ouvindo-o todo o povo, disse Jesus aos seus discípulos:
46 Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas; e amam as saudaçöes nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes;
47 Que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, longas oraçöes. Estes receberäo maior condenaçäo.

Capitulo 21

1 E, olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro;
2 E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;
3 E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;
4 Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha.
5 E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse:
6 Quanto a estas coisas que vedes, dias viräo em que näo se deixará pedra sobre pedra, que näo seja derrubada.
7 E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando seräo, pois, estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer?
8 Disse entäo ele: Vede näo vos enganem, porque viräo muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo. Näo vades, portanto, após eles.
9 E, quando ouvirdes de guerras e sediçöes, näo vos assusteis. Porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim näo será logo.
10 Entäo lhes disse: Levantar-se-á naçäo contra naçäo, e reino contra reino;
11 E haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.
12 Mas antes de todas estas coisas lançaräo mäo de vós, e vos perseguiräo, entregando-vos às sinagogas e às prisöes, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do meu nome.
13 E vos acontecerá isto para testemunho.
14 Proponde, pois, em vossos coraçöes näo premeditar como haveis de responder;
15 Porque eu vos darei boca e sabedoria a que näo poderäo resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem.
16 E até pelos pais, e irmäos, e parentes, e amigos sereis entregues; e mataräo alguns de vós.
17 E de todos sereis odiados por causa do meu nome.
18 Mas näo perecerá um único cabelo da vossa cabeça.
19 Na vossa paciência possuí as vossas almas.
20 Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei entäo que é chegada a sua desolaçäo.
21 Entäo, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e os que nos campos näo entrem nela.
22 Porque dias de vingança säo estes, para que se cumpram todas as coisas que estäo escritas.
23 Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo.
24 E cairäo ao fio da espada, e para todas as naçöes seräo levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.
25 E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das naçöes, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.
26 Homens desmaiando de terror, na expectaçäo das coisas que sobreviräo ao mundo; porquanto as virtudes do céu seräo abaladas.
27 E entäo veräo vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória.
28 Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redençäo está próxima.
29 E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores;
30 Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o veräo.
31 Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto.
32 Em verdade vos digo que näo passará esta geraçäo até que tudo aconteça.
33 Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras näo häo de passar.
34 E olhai por vós, näo aconteça que os vossos coraçöes se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.
35 Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra.
36 Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que häo de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem.
37 E de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, ficava no monte chamado das Oliveiras.
38 E todo o povo ia ter com ele ao templo, de manhä cedo, para o ouvir.

Capitulo 22

1 Estava, pois, perto a festa dos ázimos, chamada a páscoa.
2 E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo.
3 Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze.
4 E foi, e falou com os principais dos sacerdotes, e com os capitäes, de como lho entregaria;
5 Os quais se alegraram, e convieram em lhe dar dinheiro.
6 E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço.
7 Chegou, porém, o dia dos ázimos, em que importava sacrificar a páscoa.
8 E mandou a Pedro e a Joäo, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.
9 E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?
10 E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cántaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar.
11 E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?
12 Entäo ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos.
13 E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa.
14 E, chegada a hora, pós-se à mesa, e com ele os doze apóstolos.
15 E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça;
16 Porque vos digo que näo a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.
17 E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós;
18 Porque vos digo que já näo beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus.
19 E, tomando o päo, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.
20 Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós.
21 Mas eis que a mäo do que me trai está comigo à mesa.
22 E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!
23 E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto.
24 E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.
25 E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles säo chamados benfeitores.
26 Mas näo sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve.
27 Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura näo é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve.
28 E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentaçöes.
29 E eu vos destino o reino, como meu Pai mo destinou,
30 Para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e vos assenteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel.
31 Disse também o Senhor: Simäo, Simäo, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
32 Mas eu roguei por ti, para que a tua fé näo desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmäos.
33 E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisäo e à morte.
34 Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que näo cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces.
35 E disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada.
36 Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que näo tem espada, venda a sua capa e compre-a;
37 Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento.
38 E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta.
39 E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40 E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que näo entreis em tentaçäo.
41 E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42 Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia näo se faça a minha vontade, mas a tua.
43 E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44 E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chäo.
45 E, levantando-se da oraçäo, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza.
46 E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que näo entreis em tentaçäo.
47 E, estando ele ainda a falar, surgiu uma multidäo; e um dos doze, que se chamava Judas, ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar.
48 E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?
49 E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos à espada?
50 E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.
51 E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou.
52 E disse Jesus aos principais dos sacerdotes, e capitäes do templo, e anciäos, que tinham ido contra ele: Saístes, como a um salteador, com espadas e varapaus?
53 Tenho estado todos os dias convosco no templo, e näo estendestes as mäos contra mim, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
54 Entäo, prendendo-o, o levaram, e o puseram em casa do sumo sacerdote. E Pedro seguia-o de longe.
55 E, havendo-se acendido fogo no meio do pátio, estando todos sentados, assentou-se Pedro entre eles.
56 E como certa criada, vendo-o estar assentado ao fogo, pusesse os olhos nele, disse: Este também estava com ele.
57 Porém, ele negou-o, dizendo: Mulher, näo o conheço.
58 E, um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, näo sou.
59 E, passada quase uma hora, um outro afirmava, dizendo: Também este verdadeiramente estava com ele, pois também é galileu.
60 E Pedro disse: Homem, näo sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo.
61 E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.
62 E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.
63 E os homens que detinham Jesus zombavam dele, ferindo-o.
64 E, vendando-lhe os olhos, feriam-no no rosto, e perguntavam-lhe, dizendo: Profetiza, quem é que te feriu?
65 E outras muitas coisas diziam contra ele, blasfemando.
66 E logo que foi dia ajuntaram-se os anciäos do povo, e os principais dos sacerdotes e os escribas, e o conduziram ao seu concílio, e lhe perguntaram:
67 És tu o Cristo? Dize-no-lo. Ele replicou: Se vo-lo disser, näo o crereis;
68 E também, se vos perguntar, näo me respondereis, nem me soltareis.
69 Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus.
70 E disseram todos: Logo, és tu o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.
71 Entäo disseram: De que mais testemunho necessitamos? pois nós mesmos o ouvimos da sua boca.

Capitulo 23

1 E, levantando-se toda a multidäo deles, o levaram a Pilatos.
2 E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa naçäo, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.
3 E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
4 E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidäo: Näo acho culpa alguma neste homem.
5 Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.
6 Entäo Pilatos, ouvindo falar da Galiléia perguntou se aquele homem era galileu.
7 E, sabendo que era da jurisdiçäo de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.
8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.
9 E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.
10 E estavam os principais dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12 E no mesmo dia, Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro.
13 E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo,
14 Disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.
15 Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que näo tem feito coisa alguma digna de morte.
16 Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.
17 E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa.
18 Mas toda a multidäo clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás.
19 O qual fora lançado na prisäo por causa de uma sediçäo feita na cidade, e de um homicídio.
20 Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21 Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o.
22 Entäo ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Näo acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-lo-ei.
23 Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, redobravam.
24 Entäo Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.
25 E soltou-lhes o que fora lançado na prisäo por uma sediçäo e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
26 E quando o iam levando, tomaram um certo Simäo, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.
27 E seguia-o grande multidäo de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam.
28 Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, näo choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
29 Porque eis que häo de vir dias em que diräo: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que näo geraram, e os peitos que näo amamentaram!
30 Entäo começaräo a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos.
31 Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?
32 E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.
33 E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
34 E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque näo sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.
35 E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.
36 E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre.
37 E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
38 E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
39 E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
40 Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenaçäo?
41 E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.
42 E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
43 E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
44 E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol;
45 E rasgou-se ao meio o véu do templo.
46 E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mäos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.
47 E o centuriäo, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
48 E toda a multidäo que se ajuntara a este espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltava batendo nos peitos.
49 E todos os seus conhecidos, e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galiléia, estavam de longe vendo estas coisas.
50 E eis que um homem por nome José, senador, homem de bem e justo,
51 Que näo tinha consentido no conselho e nos atos dos outros, de Arimatéia, cidade dos judeus, e que também esperava o reino de Deus;
52 Esse, chegando a Pilatos, pediu o corpo de Jesus.
53 E, havendo-o tirado, envolveu-o num lençol, e pó-lo num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto.
54 E era o dia da preparaçäo, e amanhecia o sábado.
55 E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo.
56 E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento.

Capitulo 24

1 E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas.
2 E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
3 E, entrando, näo acharam o corpo do Senhor Jesus.
4 E aconteceu que, estando elas muito perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois homens, com vestes resplandecentes.
5 E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chäo, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?
6 Näo está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia,
7 Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mäos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.
8 E lembraram-se das suas palavras.
9 E, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais.
10 E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mäe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos.
11 E as suas palavras lhes pareciam como desvario, e näo as creram.
12 Pedro, porém, levantando-se, correu ao sepulcro e, abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se, admirando consigo aquele caso.
13 E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús.
14 E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.
15 E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles.
16 Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o näo conhecessem.
17 E ele lhes disse: Que palavras säo essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes?
18 E, respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém, e näo sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?
19 E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo;
20 E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenaçäo de morte, e o crucificaram.
21 E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.
22 É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro;
23 E, näo achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visäo de anjos, que dizem que ele vive.
24 E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém, a ele näo o viram.
25 E ele lhes disse: O néscios, e tardos de coraçäo para crer tudo o que os profetas disseram!
26 Porventura näo convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?
27 E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.
28 E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe.
29 E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.
30 E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o päo, o abençoou e partiu-o, e lho deu.
31 Abriram-se-lhes entäo os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.
32 E disseram um para o outro: Porventura näo ardia em nós o nosso coraçäo quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?
33 E na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém, e acharam congregados os onze, e os que estavam com eles,
34 Os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simäo.
35 E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do päo.
36 E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco.
37 E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito.
38 E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos coraçöes?
39 Vede as minhas mäos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito näo tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.
40 E, dizendo isto, mostrou-lhes as mäos e os pés.
41 E, näo o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer?
42 Entäo eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel;
43 O que ele tomou, e comeu diante deles.
44 E disse-lhes: Säo estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.
45 Entäo abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.
46 E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos,
47 E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissäo dos pecados, em todas as naçöes, começando por Jerusalém.
48 E destas coisas sois vós testemunhas.
49 E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.
50 E levou-os fora, até Betánia; e, levantando as suas mäos, os abençoou.
51 E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu.
52 E, adorando-o eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém.
53 E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém.

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